Salve, salve!!! Salve-se quem puder.
Os motoristas egípcios talvez sejam os melhores do mundo. No meio de tanto caos, onde a buzina significa “chega pra lá que tô passando”, todos se entendem.
É impressionante notar que entre os quase 8 milhões de habitantes do Cairo e seus respectivos carros, principalmente Fiats e Ladas antigos, motos, tuk tuks e vans de transporte, nada de grave acontece.
A cada segundo ocorrem quase batidas e finas onde nem um fio de cabelo passa entre os carros. Sem falar nos milhares de quase atropelamentos. Apesar de tudo, todos se salvam.
A playlist “Egito Antigo” vai te levar para um estado de meditação nunca antes alcançado. Faça um chá, acenda um narguilê, feche os olhos e deixe-se levar pelas melodias de Derek e Brandon Fiechter:
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Comecei a escrever crônicas todas às quartas, mas só para assinantes. Quem quiser pagar módicos 10 reais poderá ler. Serão causos do cotidiano e coisas da Vida em textos curtos, rápidos e rasteiros para serem lidos enquanto você bebe um café na pausa do trabalho. Obrigado pela leitura.
Caos organizado no Cairo
A cidade mais 24 horas do mundo
Um dia ainda hei de dirigir no Cairo. Deve ser melhor do que pilotar a Red Bull do Verstappen em Silverstone. Numa avenida de quatro pistas da capital egípcia andam pelo menos seis carros lado a lado. Ao mesmo tempo! Os pedestres atravessam aquele tsunami de viaturas na maior desenvoltura e tranquilidade. Vi um casal no meio dos carros, passeando de mãos dadas, como se estivessem no ar condicionado de um shopping tomando sorvete.
Fico imaginando um alemão num lugar desses. Parado e impotente sem uma luz vermelha ou verde sequer para acionar o algoritmo interno ordenando o comando „andar“ para suas pernas branquelas de bermuda com meias pretas e sapatos idem. Ficaria ali na calçada ao lado da avenida por três gerações sem saber o que fazer. A não ser que um solidário filho de Ramsés resolvesse ajudá-lo pegando-o pelo braço e rompendo o mar de lata, vidro, borracha e sujeira adentro até chegar do outro lado.
E as buzinas?! Sem elas o trânsito ficaria mais caótico do que já é. Servem pra tudo: anunciar a chegada, alertar, chega pra lá, sai da frente, anda logo lerdeza, cuidado, se não pular fora te atropelo. Sem elas os motoristas ficariam zonzos e desnorteados. Um simples buzinar leva a crer que o da frente andará mais rápido, ou melhor ainda, desaparecerá.
Cordiais e atenciosos, os egípcios realmente se preocupam com o bem estar do próximo sem aquela hipocrisia de agradar querendo algo em troca.
A comida é parecida com a libanesa, mas as entradas são mais saborosas. Um verdadeiro teatro acontece durante uma simples escolha do peixe a ser comido no jantar. Tive que me levantar da mesa e ir até a estufa dos peixes, camarões e lagostas para assistir a uma confabulação em árabe dos comensais até decidirem qual ou quais peixes seriam levados ao fogo. Deve fazer parte de algum antigo ritual faraônico.
A quantidade é sempre grande. As carnes também são muito boas: kafta, cordeiro ou frango. E o cappuccino do posto de gasolina é bem melhor e mais barato do que na Alemanha.
Os serviçais estão por toda parte. Chega-se ao cúmulo de empregarem um menino apenas para ficar dentro do banheiro tirando toalhas de papel e entregando a quem acaba de lavar as mãos. Nos postos de pedágio, dois empregados cuidam da cobrança e coleta da grana. Um pega o dinheiro do motorista e entrega ao da cabine. Este imprime a notinha e devolve junto com o troco ao primeiro que repassa ao motorista. Num posto de gasolina contei 12 frentistas para quatro bombas. Mas também, com 95 milhões de habitantes e uma das mais altas densidades demográficas do mundo, especialmente ao longo do Nilo e em seu delta, já que o resto é deserto, todo e qualquer aspone precisa de função.
A Coca-cola é uma marca onipresente. Talvez seja mais famosa que Alá ou Jesus Cristo. Qualquer biboca de beira de estrada no meio do nada ostenta o símbolo vermelho e branco como um brasão real. Até nisso a Pepsi leva desvantagem já que o vermelho chama muito mais a atenção do que o azul.
Vi umas 50 mesquitas ao longo desses dias. Sempre muito limpas e bem acabadas por fora. Nas estradas estão por toda parte. Deve haver alguma lei dizendo que se construa uma mesquita a cada 50km, assim como aqueles telefones de emergência nas autopistas modernas. Uma espécie de Disque Alah com conexão direta ao Paraíso permitindo o pagamento dos pecados mais recentes.
Por toda a cidade do Cairo, metade dos prédios estao inacabados. São de alvenaria e concreto puro e simples com pontas de ferragens nas cabeças dos pilares. Os prédios existentes e finalizados não tem reboco ou pintura. Somente um ou outro dos moradores mais abonados está completo e bem acabado.
Apesar da pobreza e Vida espartana da maioria dos egípcios, nem por isso existe violência. O Islã é tão arraigado na Vida espiritual, política, legal, social e pessoal das pessoas, que as conduz, controla e dita seus ritmos e destinos desde o primeiro instante.
Mubarak (à esquerda) tornou-se o quarto presidente do Egito após o assassinato de Anwar Sadat (à direita)
A velha guarda da população ainda sente saudades do ditador Hosni Mubarak. Dizem que a lei e a ordem eram respeitadas, o país mais seguro e a Vida mais fácil e barata, apesar das repressões e liberdade limitada. Após a revolução de Jan/2011 durante a Primavera Árabe, os jovens acham que não devem respeitar mais nada. Fazem o que querem, confundem protesto com vandalismo e liberdade com democracia.
O ex-presidente e falecido ditador Hosni Mubarak governou o Egito de 1981 a 2011 quanto foi deposto durante a Primavera Árabe que varreu essas bandas de cá. Condenado à prisão perpétua pela morte de manifestantes, deu o bom e velho jeitinho egípcio e passou o fim de seus dias em casa ou num hospital militar. Assumiu o posto após o assassinato da Anwar Sadat, morto durante uma parada militar. Mubarak era seu vice e estava ao seu lado quando Sadat fora atingido por tiros de terroristas. Assumiu logo em seguida, cumpriu o acordo de paz com Israel e os EUA e, segundo os próprios egípcios, era um bom homem que fez coisas boas pelo país.
Quando caiu em 2011 foi substituído por Morsi da Irmandade Muçulmana. Não durou muito essa aventura e os fundamentalistas foram sacados do poder assumindo o general Sissi, ainda hoje o principal mandatário do antigo reino dos faraós.
Gizé
O grand finale foram as pirâmides e a esfinge. Confesso que estava mais interessado na última do que nas primeiras. De certa forma me decepcionei pois ela não é tão grande assim. O sol estava quente e queimando a nossa cara impossibilitando boas fotos quando soube que o nariz dela encontra-se num museu inglês e uma orelha no Louvre. Sempre achei que o Obelix havia quebrado o nariz da esfinge. Quase truquei o guia sobre o Louvre, mas resolvi ser diplomático.
As pirâmides são grandiosas e impressionantes, claro. Os blocos imensos, pesando em média 2,7 toneladas de um total estimado em 2.345.567 pedras, pedrinhas e matacões, foram ali colocadas por uma multidão de 20.000 escravos que trabalhavam por comida e abrigo. Ali estao desde 2.500 A.C. mais ou menos. Somos um grão de areia perto delas. Do alto de um camelo, ou um “navio do deserto”, todo o passeio ficou mais interessante.
Outras seis pequenas pirâmides adornam o sítio arqueológico. Se as grandes foram construídas para servir de sepultura a Quéops, o pai, Quéfren, o filho, e Mykerinos, o neto, as pequenas foram destinadas para as rainhas. Nunca soube disso. Muito menos que acharam um barco enterrado ao lado da maior delas. Achavam que o faraó, ao ressuscitar, pegaria sua jangada, levantaria velas e navegaria Nilo acima rumo a Luxor ou Assuan retornando ao Vale dos Reis e aos braços da galera.
O Egito é uma terra de contrastes intensos, mas no fundo são felizes e autênticos. A religião mantém a turma na rédea curta e sob controle. Não há violência urbana apesar da pobreza, da miséria, dos mais de 20 milhões vivendo no Cairo, do trânsito caótico e do esfrega esfrega nas ruas e bazares a céu aberto. O Islamismo tem lá suas vantagens.
Esses egípcios são uns doidos geniais.
Cleópatra – Joseph L. Mankiewicz (1963)
O triângulo amoroso mais famoso da História
Eu só poderia recomendar este clássico atemporal estrelado por Elizabeth Taylor interpretando a rainha egípcia. “Cleópatra” é uma história de amor mostrando os romances entre Cleópatra, o imperador romano Júlio César e Marco Antônio, seu braço direito e general, no mais famoso triângulo amoroso da História.
Dirigido pelo vencedor do Oscar Joseph L. Mankiewicz, o épico histórico foi todo filmado em 70mm. A maior bilheteria de 1963 arrecadou mais de US$ 24 milhões em seu lançamento. O filme custou US$ 42 milhões (equivalente a mais de US$ 300 milhões hoje), um valor sem precedentes que quase levou a Twentieth Century Fox à falência. Além de cenários e figurinos elaborados, atrasos na produção, a transferência das filmagens de Londres para Roma contribuíram para o orçamento exorbitante.
Um caso de amor público entre Liz Taylor e Richard Burton floresceu durante os três anos de produção revelando que houve romance e intriga tanto dentro quanto fora da tela.
A superprodução ganhou quatro Oscars e foi indicada a mais cinco, incluindo o de Melhor Filme.
Série “Ramsés” – Christian Jacq (1995 – 1996)
A saga de um dos faraós mais queridos
Templo de Ramsés II em Abu Simbel, sul do Egito
O egiptólogo e famoso romancista francês Christian Jacq usou fatos históricos reais, romance, personagens e detalhes da vida cotidiana bem conhecidos e verdadeiros para criar a série Ramsés. Misturando ficção e realidade, a grandeza do Egito antigo se espalhou feito tempestade de areia pelo mundo nos anos 1990.
O faraó Ramsés reinou durante mais de sessenta anos às margens do Nilo. Seu pai Séthi fez do Egito o mais poderoso império do mundo. Já Ramsés, pertencente à XIX dinastia do Egito Antigo, soube cultivar a sabedoria, a justiça e a prosperidade.
Os cinco livros da famosa série são: Ramsés: O filho da Luz (Vol. 1), Ramsés: O templo de milhões de anos (Vol. 2), Ramsés: A batalha de Kadesh (Vol. 3), Ramsés: A dama de Abu-Simbel (Vol. 4) e Ramsés: Sob a Acácia do Ocidente (Vol. 5).
Depois de ler tudo isso você pode se apresentar como um egiptólogo que muita gente vai acreditar.
Rolê aleatório
O que mais aconteceu por aí?
Ø Uma longa entrevista com o diretor Michael Mann e seu novo projeto: a Ferrari
Ø Martin Scorsese ainda precisa descobrir quem é
Ø O Brasil está envelhecendo rápido e não se preparou para isso
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Também gostei bastante do Cairo, fiquei surpreso da cidade estar “colada” nas pirâmides sem precisar andar trocentos quilômetros deserto adentro, achei curioso os piqueniques noturnos das famílias reunidas em tudo quanto era calçada, e é claro, o trânsito surreal numa terra sem sinais que você descreveu com uma maestria absurda! :)
"Amo histórias sobre o Egito! Ainda vou conhecer a esfingee as pirâmides! Sou louca para conhecer o Vale dos Reis também por causa dos livros! Bjs"
Elaino