Salve, salve!!! Salve-se quem puder.
Foto: Gazeta del Casco Viejo, 2024
Bilbao é uma festa! As ruas vibrantes, os pintxos fabulosos, as ruas apertadas e lotadas de gente, copos espalhados pelas calçadas, uma paixão absurda pelo Athletic e o orgulho basco acima de tudo. Se você quer comer e beber muito bem e barato, venha conhecer Bilbao.
DISCLAIMER: Não, eu nao fui contratado pela Secretaria de Turismo da cidade para promovê-la.
A playlist ”Punk/Rock Vasco” traz petardos da resistência local como Soziedad Alkoholika, Kaotiko, La Polla, Eskorbuto, Gatibu e Exkixu. Parecem até nomes de entidade da umbanda e do candomblé
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Comecei a escrever crônicas liberadas apenas aos assinantes. São causos do cotidiano e coisas da Vida em textos curtos, rápidos e rasteiros para serem lidos enquanto você bebe um café em casa ou na pausa do trabalho. Obrigado pela leitura.
Bilbao pulsa
Gastronomia de altíssimo nível
Foto: arquivo pessoal (2024)
A cidade tem apenas 320 mil habitantes, mas contando os subúrbios chegamos a um milhão. Em quinze minutos, seja a pé ou de carro, chega-se ao destino. Um metrô muito maior que o tamanho da cidade atende a todos com louvor. Projetado por Norman Foster, tá pensando o que?!
Bilbao sempre foi uma cidade feia, cinza e industrial. Cresceu e floresceu gracas ao comércio ultramarino com os ingleses durante o século XIX (você sabe contar em romanos?!) fornecendo aço a preços competitivos gracas às minas de carvão de excelente qualidade ali perto. A nata da sociedade importava cacau da Venezuela pra fazer chocolate quente quando a iguaria era raridade na Europa. Dizia-se que um basco preferia ver sua casa pegar fogo a sair dela sem ter tomado seu chocolate quente matinal.
Tudo mudou no final dos anos 90 quando decidiram mudar a cara da cidade com a construção do metrô em 1994 e do Museu Guggenheim no ano seguinte. Peggy, a herdeira da família Guggenheim, foi a única sobrevivente do Titanic. Sobrevivente é modo de dizer, pois ela não estava no famigerado barco que afundou. Contraiu uma doença na véspera da viagem e acabou não indo viajar com toda a família que morreu afogada. Se sentindo uma prometida, resolveu dedicar toda sua Vida à arte e assim o fez. Multiplicou o dinheiro que recebeu de herança e saiu pipocando museus pelo mundo.
A agraciada Bilbao só tem a agradecer. O turismo floresceu com a chegada da obra prima projetada por Frank Gehry. Se aproveitaram da queda da União Soviética para comprar a preço de banana o titânio necessário pra fabricar as placas que revestem a fachada do museu. Não oxidam e trocam de cor de acordo com a luz do sol dando um charme único à construção.
Com tantos turistas, a gastronomia floresceu. O País Basco é a região do mundo com maior número de estrelas Michelin per capita. Mas você não precisa gastar € 250 num menu degustação pra sentir o prazer e a diversidade da culinária local. Basta entrar num bar ou restaurante cheio e pedir o que tiver na vitrina acompanhado de um zurito, o chopp pequeno local ideal para acompanhar um pintxo, ou um crianza de Rioja ou Duero.
Os bascos são o povo mais antigo da Europa e sua origem é até hoje cercada de mistérios. A teoria mais aceita é de que são descendentes do homem de Cromagnon chegando na região por volta de 2000 a.C. e ficaram anos isolados e protegidos geograficamente pelos Pirineus franceses ao leste. Nem os mouros e muito menos os romanos chegaram até lá. Isso talvez explique porque o idioma basco, o Euskera, tenha permanecido e seja falado até hoje. Nas escolas é obrigatório e a molecada sente prazer em levar adiante uma tradição milenar. Assim se mantém uma cultura e se protege o orgulho de ser basco.
Athletiiiiii campeão após 40 anos
Etxea em basco significa casa. Você com certeza se lembra do Goycochea, aquele arqueiro fabuloso da Argentina que pegou até pensamento na Copa de 1990. A família dele é basca, foram parar na Argentina onde o sobrenome sofreu alterações e se “nacionalizou”.
Os caserios são típicas casas bascas com paredes grossas de pedra e madeira. Hoje em dia acomodam restaurantes familiares de ótima reputação e qualidade comprovada. Ali no País Basco chove bastante e por isso mesmo está sempre verde. É um clima típico inglês.
Foto: Gazeta del Casco Viejo
O barco do título de 1984 foi sacado do museu para receber os heróicos jogadores e o troféu da Copa del Rey. Após 40 anos, o Athletic de Bilbao é mais uma vez campeão em 2024. Só ficam atrás do Barcelona em títulos no torneio, mesmo assim por que teve um cometa chamado Messi passando por lá. Depois da chegada dos estrangeiros, a política de só contratar jogadores bascos não tem sido muito eficiente por essas bandas.
Mais de um milhão de pessoas foram às ruas pra ver passar o cortejo marítimo que saiu de Getxo até o Casco Viejo, onde Bilbao foi fundada. As bordas do rio Nervión ficaram abarrotadas de hinchas do Atleti. Meu colega de trabalho e agora amigo Iker nunca tinha visto seu time do coração ser campeão. Foi a Sevilla com mais quatro amigos pra ver a final enfrentando dez horas pra ir e as mesmas dez na volta, mas quem se importa? Estava nas nuvens com o caneco garantido.
No sábado da final, que começou às 10 da noite, estávamos em Laguardia, Rioja. Assistimos deitados na cama do hotel, eu e os meninos, todos três vestindo camisas alvirrubras. A transmissão em basco ajudou a compor ainda mais o drama da disputa, e mesmo assim entendemos tudo.
AAAAAAAtleeeeeeetiiiiiiiiiiiiii!!!!
Pintxos
Os tacos bascos são chamados de pintxos. É uma variedade impressionante. Desde o txangurro, um caranguejo selvagem, passando por alcachofras e polvo magnificamente grelhados na brasa, as croquetas de jamón ou sépia, até chegar nas Gildas, espetinhos de azeitona, anchova e pepperoni, a comida de rua e di buteco em Bilbao é nota 10.
Foto: arquivo pessoal (2024)
A culinária basca é a melhor da Espanha, segundo os próprios espanhóis. Rica, variada e saborosa, arrisco dizer que ganha da italiana e bate a francesa de lavada. Mas se apostar com a comida mineira provavelmente vai perder.
Ontem mesmo fui comer uma das melhores parrillas da cidade, mas a carne foi uma decepção. O boi Simental com gordura demais e carne dura não entregou o que prometia. As entradas, vinhos e sobremesas estavam ótimas.
Se quer comer carne de qualidade, vá ao Beher e peça o cerdo ibérico. Parece carne de boi, mas é porco. Uma maravilha!
Quer comer bem na Europa, já sabe né!
Documentários sobre o País Basco – vários diretores
Foi impossível escolher um só
Em 2003 saiu “La pelota vasca – The Basque Ball: Skin Against Stone” do Julio Medem. O jogo é um símbolo e orgulho do País Basco, mas se trata de um documentário sobre o ETA.
A suposta intenção do filme era criar uma ponte entre as diferentes posições políticas que coexistem, às vezes violentamente, no País Basco. O diretor Medem edita as entrevistas dando um sentido de diálogo entre partes que se recusaram a sentar e conversar.
No Netflix temos “No me llame Ternera – Don’t Call Me Ternera”. O filme apresenta uma entrevista dos jornalistas Jordi Évole e Màrius Sánchez com Josu Urrutikoetxea, mais conhecido como Josu Ternera, que foi uma figura importante do grupo terrorista basco ETA e um dos seus membros mais cruéis.
E o Amazon Prime tem “The Challenge: ETA”, uma série com oito episódios de 2020 dirigida por Hugo Stuven e seu parceiro Carlos Agulló sobre a luta da Guardia Civil contra o grupo terrorista basco ETA. Uma luta que durou meio século, até sua dissolução e renúncia definitiva às armas.
Não assisti nenhuma delas e deixo aqui os trailers pra vocês conferirem. Vou atrás desse do Medem.
Pátria – Fernando Aramburu (2019)
Triste história de um povo orgulhoso ao extremo
O fanatismo e a violência política são mostrados através da história das amigas Bittori e Miren. Quando o marido da primeira é marcado para morrer, a segunda se radicaliza ao ver um dos filhos se tornando terrorista do ETA. Depois do assassinato do marido, Bittori resolve voltar à vila anos depois para acertar contas com o passado.
O livro retrata de forma ágil as dores e o luto das famílias vítimas dos atentados do grupo separatista ETA, além do sofrimento dos militantes manipulados, perseguidos e até presos. Não há vilões, mocinhos ou lições de moral, apenas uma realidade dura e traumas arraigados em comunidades onde o perdão e a reconciliação parecem ser impossíveis.
O livro do Fernando Aramburu se tornou um fenômeno de vendas e acabou virando série na HBO.
Rolê aleatório
O que mais aconteceu por aí?
Ø A verdadeira razao da Finlândia ser o país mais feliz do mundo
Ø Exercícios recomendados por um médico para quem tem mais de 50
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