Alea iacta est #100 – Espiritualidade
Carl Jung, Agnes Obel, o Divino, Kriya Yoga, Wim Wenders e um Yogi
Salve, salve!!! Salve-se quem puder.
Foto: Portal EdiCase
E chegamos a centésima edição da minha newsletter Alea iacta est, quem diria!
A primeira saiu no distante 25 de junho de 2021 quando a pandemia ainda comia solta e ceifava vidas sem dó nem piedade. Escrevi sobre Mdou Moctar, a ótima série Halston, o podcast B3 e... Warren Buffett.
Quase três anos e meio depois e próximo dos 1.000 assinantes gratuitos e muquiranas - estamos em 979 neste instante - agradeço imensamente a quem leu meus textos até aqui. Faltam 21 para o milésimo! Espalhem a newsletter aos quatro ventos, por obséquio.
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A playlist poderia ser mais festiva e comemorativa nessa efeméride que só a mim interessa, mas escrever sobre Espiritualidade é assunto sério e profundo. Por isso escolhi o disco “Aventine” da Agnes Obel, muito prazer.
Ela tem 44 anos, é dinamarquesa radicada em Berlin, cantora, compositora, produtora e pianista fodástica de uma elegância ímpar. Vai tocar fundo na sua alma, tenho certeza.
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Conexão direta com o Divino
Fé e Espiritualidade nada tem a ver com Religião
Escrever sobre Espiritualidade não é fácil. É um assunto amplo, vasto e polêmico que pode significar tudo e também nada.
Muitos confundem com religião ou qualquer tipo de crença religiosa. Outros acreditam ser a conexão da nossa alma com algo imensurável, com alguma força ou deus que rege a tudo e a todos.
Para mim, Espiritualidade é crer em algo maior do que simplesmente a nossa mera existência. É ter fé em algo divino, invisível, numa força física, química e biológica comandando tudo ao nosso redor, tanto em escala nanométrica quanto espacial, gigantesca e universal.
Foto: Verdade Invisível
E passa longe de religião, quaisquer que sejam elas. Deus ou todos os deuses deste planeta, são criações humanas. Foram definidos, especificados, descritos, cunhados e finalmente feitos por homens e mulheres de diversas culturas e crenças em épocas distintas e até imemoriais. Desde o Egito, Mesopotâmia ou Grécia Antiga até os dias atuais, deuses é que não faltam nesta Terra.
O número oficial de deuses na Índia chega a 330 milhões. Extraoficialmente, porém, essa conta bate na casa do bilhão. Até uma joaninha com uma asa capenga pode ser um deus no Hinduísmo, sem exagero algum.
Dentre tantas definições para Espiritualidade, escolhi três.
O dicionário Michaelis é sucinto. Para ele, significa:
1. Qualidade do que é espiritual.
2. Qualidade do que manifesta ou exerce atividade religiosa ou mística; misticismo, religiosidade.
3. Sentimento de transcendência; elevação, sublimidade.
A Wikipédia é mais ampla e democrática:
“A espiritualidade pode ser definida como uma propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio. A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa.”
E neste interessante especial “O que é Espiritualidade?”do portal Terra, onde publico textos com frequência quase semanal (leia o último sobre “Medo do Desconhecido”), a definição seria:
“É a conexão do humano com o Divino. Espiritualidade vem de uma palavra do Latim muito interessante: spiritus, que também quer dizer “sopro”. Portanto, espírito é o sopro divino que existe em cada um de nós, é a essência da nossa alma. Cada pessoa é uma alma e o espírito é essa energia que nos torna existentes, parte da criação.
Espiritualidade não quer dizer exatamente seguir uma religião ou outra. Significa que você deseja que sua vida se transforme para conseguir viver essa tal espiritualidade. É você fazer uma busca profunda para descobrir que é feito do Divino. É esse reencontro com a sua essência, com o seu espírito.”
A busca ou mergulho mais profundo que podemos fazer em nossas Vidas é justamente interior. Quanto mais nos conhecemos, melhor entendemos o outro, aprendemos a conviver em sociedade, nos colocamos no lugar de quem está falando, ouvimos mais do que falamos, e nos respeitamos uns aos outros.
A expressão “a Vida é um sopro” nunca fez tanto sentido.
“Suas visões se tornarão claras somente quando você puder olhar para seu próprio coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.”
Carl Jung
Kriya Yoga
Influenciado por Ela, Juliette, minha esposa divina, resolvi fazer uma iniciação nesta vertente da Yoga. Não é aquela sessão de alongamentos olhando para um Shiva iluminado numa sala cheirando a incenso que você imagina.
É sim um ambiente silencioso, acarpetado, cheirando bem, com fotos de vários gurus Yogis sendo Jesus Cristo branco de olhos azuis um deles.
Foto: Gurus da Kriya Yoga
A meditação é a parte principal. Os chacras do nosso corpo regem a energia que flui pelo nosso organismo, começando no topo da cabeça passando pelo cérebro (mente), a garganta (falar), o coração (sentir), o abdômen ou barriga (se alimentar), os genitais (reprodução ou prazer) até chegar no cóccix (limpeza). É a tal da Fontanelle.
A respiração controla tudo e te faz entrar num estado de calma e paz de espírito impossíveis de serem experimentados na correria do dia a dia. É uma forma de se desconectar do mundo, de tudo e de todos, e se reconectar consigo mesmo. Uma limpeza da mente, literalmente desanuviar.
Pessoas ficam duas horas numa academia. Outras passam cinco ou seis maratonando uma série refestelados em seus sofás comendo e bebendo alimentos ultraprocessados. Uma multidão perde horas preciosas no trânsito, sem falar nas pelo menos oito horas de trabalho.
Por que não investir uma hora no final de semana pra resetar tudo, ajustar e lubrificar as engrenagens, apertar os parafusos e se preparar para os próximos sete dias?
Você sai mais leve, enxerga melhor as cores, sente cheiros e sabores diferentes, presta atenção em detalhes insignificantes como um passarinho que acabou de pousar num galho ainda úmido da chuva observando o ambiente à procura de comida. Até a penugem levemente estufada do peito dessa ave te salta aos olhos.
O sabor da comida vegana servida após a prática é delicioso. Sou carnívoro, adoro churrasco, mas devo admitir que, de vez em quando, não comer carne faz bem e facilita a digestão. Você se sente realmente alimentado com nutrientes essenciais para o bom funcionamento de qualquer máquina humana.
Venho mapeando meu sono com um relógio desses de corredor recém adquirido. Minha pontuação é alta quando vou dormir cedo, umas 22:30, por exemplo. Se faço meditação, como pouco no jantar e não bebo álcool, passo fácil de 80 pontos.
Na direção contrária, quando me deito tarde, encho a pança no jantar e bebo cerveja ou vinho, já era. Fica abaixo dos 50 e o sono não é tão restaurador como deveria ser.
Segundo a mesma Wikipedia: “Atualmente, a espiritualidade e suas relações com a saúde humana tem sido bastante estudada. A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem aprofundando as investigações sobre a espiritualidade enquanto constituinte do conceito multidimensional de saúde; o bem-estar espiritual vem sendo considerado mais uma dimensão do estado de saúde, junto às corporais, psíquicas e sociais.”
Não espere me ver num traje alaranjado de monge caminhando sozinho por trilhas em montanhas idílicas colhendo Edelweiß ou mesmo reservando uma viagem para um retiro yogui no Tibet. Muito menos me tornar vegano ou parar de beber. Mas, um balanço entre essa correria toda e uns momentos de pausa, desconexão, limpeza, purificação e recarregamento fazem muito bem.
Para o corpo e principalmente para a alma.
Lembre-se bem: a Vida é um sopro.
Asas do Desejo - Wim Wenders (1987)
Ser imortal sem sentimentos ou ser humano e experimentar o Amor?
Esqueça o remake “Cidade dos Anjos” com o canastrão Nicolas Cage e Meg Ryan. Assista ao original “Der Himmel über Berlin” escrito, dirigido e produzido por Wim Wenders.
Numa Berlin ainda dividida pelo indecente muro, os anjos Damiel e Cassiel vagam entre tantos outros e velam pelas almas perdidas, sofridas e desesperadas na cidade gelada e devastada pela guerra.
Eles assistem ao cotidiano na Terra, observando as pessoas, ouvindo seus pensamentos, vendo seus infortúnios e pequenas tragédias, mas não podem sentir as dores e alegrias dos humanos. Damiel esquece que é divino e se apaixona pela trapezista Marion, mas nada pode fazer.
Se quiser tocá-la, deverá se tornar humano e deixar de ser anjo perdendo sua imortalidade para experimentar o que lhe é negado: a existência terrena e a experiência sensorial de ser humano. Um dilema existencial que terá a ajuda de um outro anjo que soube bem fazer a travessia entre esses dois mundos.
O filme é falado em alemão, hebraico, turco, francês e inglês.
Autobiografia de um Yogi – Paramhansa Yogananda (1946)
“O controle da mente é melhor e mais difícil”
Este livro não só estava no topo da lista de Steve Jobs como foi o presente dado a todos que compareceram ao seu funeral.
Jobs o leu pela primeira vez no ensino médio e continuou a revisitá-lo ao longo de sua jornada. Foi uma fonte de inspiração positiva e desempenhou um papel fundamental na formação de sua Vida espiritual.
Dizem que é cheio de insights, divertido de ler e fascinante. É leitura obrigatória para quem está numa busca espiritual e para aspirantes da Kriya Yoga. Não é um livro fácil de se ler.
Publicado em 1946, foi a primeira vez que um autêntico yogi hindu relatou sua história de Vida para uma audiência ocidental. Suas visitas ao Mahatma Gandhi, seus anos de treinamento espiritual e o encontro com a famosa estigmata católica Therese Neumann na Bavária em 1935 são descritos com riqueza de detalhes.
Ao contar suas experiências de Vida, Yogananda tenta explicar as leis por trás tanto dos eventos comuns quanto dos milagres yogis com clareza científica.
Este foi o único ebook encontrado no iPad pessoal de Steve Jobs.
"Você pode controlar um elefante louco;
Você pode fechar a boca do urso e do tigre;
Montar no leão e brincar com a cobra;
Pela alquimia você pode aprender seu sustento;
Você pode vagar pelo universo incógnito;
Tornar-se vassalo dos deuses; ser sempre jovem;
Você pode andar na água e viver no fogo;
Mas o controle da mente é melhor e mais difícil."
Rolê aleatório
O que mais aconteceu por aí?
Ø A invenção da Maratona (em inglês)
Ø Como Viena mantém os aluguéis baixos enquanto os preços explodem em outras capitais
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"Ei Pedro, como vai? Gosto muito do tema espiritualidade, vou até rever o filme "Asas do desejo" que citou. Muito legal ampliar o pensar! Tudo de bom pra você e toda família! Abração!"
Aninha Guimaraes
"100 publicações? Muito legal!!! As religiões são frutos de interpretações humanas de cada época! Essa Fé invisível ainda não foi decodificada. Mas é importante na manutenção de uma espiritualidade!!!! 🩷"
Soninha