Alea Jacta Est #10 – Medo do Desconhecido
Coragem, Neil Young, the Shining, Coração das Trevas e Munch
Salve, salve!!! Salve-se quem puder…
O medo do desconhecido apavora a Humanidade desde que Adão resolveu levar Eva pra passear ali perto de uma macieira.
Muita gente trava nas quatro e recua diante de uma encruzilhada. Não decide e deixa a Vida levar, sem rumo, direção ou destino.
Às vezes é momentâneo: uma mudança de cidade, emprego, escola ou mesmo relacionamento.
Batedores de pênalti, políticos, músicos, empresários, motoristas, camelôs, brokers e pessoas comuns como eu e você, todos sofremos em maior ou menor grau com a tomada de decisões.
Trilha sonora: Neil Young, o músico cujas músicas são em sua maioria enigmáticas, misteriosas e os verdadeiros temas cantados são desconhecidos.
O álbum é “On the Beach” gravado em 1974, mas rejeitado pelo próprio músico. Saiu de catálogo logo após o lançamento e só foi relançado em CD em 2003. É um dos melhores de sua carreira.
Coragem é uma virtude
Enfrentar nossos medos não é fácil
Meu filho mais velho mudou de escola neste semestre. O mais novo também vai começar num outro Kindergarten na segunda. Mudamos de uma casa no interior para um apartamento na capital. A logística é outra, mais fácil e rápida, tudo perto e descomplicado.
Andamos mais a pé usando transporte público. O carro já não é mais necessário, apenas para passeios nos finais de semana. A Vida acontece todo dia, rápida, frenética, egoísta e independente. Os sapatos e as bolsas passam apressados. Andei 10.000 passos quase todos os dias nessa semana.
É tudo grandioso, imponente, cheio de pessoas, desejos, vontades, pressa e metas. Sai o verde, a grama e entra o concreto, o cinza. O rio está logo ali, mas o lago era calmo, confortável, revigorante.
Perdemos os pés na grama, as nuvens se formando, a chuva anunciando sua chegada, os grilos cantando, os passarinhos passeando pelo jardim, os vizinhos amáveis e disponíveis, a lentidão e simplicidade do interior.
O medo do desconhecido, principalmente no primeiro dia, na primeira semana, no mês inicial, pode se transformar num monstro.
De segunda até sexta as emoções, tensões e ansiedades do meu filho oscilaram bastante. Ele fala alemão fluente, mas agora é tudo em inglês. A escola pequena se transformou num colégio grande cheio de salas, espaços e pessoas de todo o mundo. Ele não conhece ninguém! Mas logo vai conhecer e se enturmar.
Ainda me lembro do meu primeiro dia no colégio novo após sair de um pequeno Kindergarten. Aqueles campos enormes de areia pareciam o Saara. Eu com meus carrinhos sob uma árvore, sozinho, esperando a hora de ir embora e pensando onde é que eu tinha me metido.
Como vou conhecer todo mundo? Serei aceito? Vão gostar de mim? E se não me respeitarem como sou? Serei amado? Vou saber me defender sozinho?
Estas são perguntas básicas que nós fazemos, consciente ou inconscientemente a cada mudança na vida. Seja na nova escola, trabalho, casa, relacionamento, cidade e mesmo país.
A coragem de mudar é essencial. Enfrentar o desconhecido e o medo de não saber lidar com aquela situação nova, também. Muita gente não muda de emprego, não vai viver seu sonho de morar no exterior, não troca de casa e nem de marido/esposa por medo do desconhecido.
Mas como já bem disse João Guimarães Rosa através de Riobaldo em “Grande Sertão: Veredas”: A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
Neil Young
As enigmáticas músicas do roqueiro canadense
Neil Young já tem 36 anos de carreira solo ou como membro dos grupos Buffalo Springfield e Crosby, Stills, Nash & Young. É um sujeito peculiar.
Dizem que o canadense tem um lado indígena muito forte. Isso seria a origem de suas letras de músicas que aparentemente dizem uma coisa, mas na verdade podem ser interpretadas de outra maneira.
Músicas como “Cortez the Killer”, “Pocahontas” e “Like an Inca” alimentam essa teoria além de várias capas de discos como Zuma (1975), Harvest Moon (1992) e Broken Arrow (1996), nome de seu rancho. Todas com claros motivos indígenas.
Leia um relato detalhado sobre esse lado índio do músico.
O jornalista Jimmy McDonough escreveu a biografia “Shakey” sobre Neil Young. Tenho o livro, mas ainda não li. É um catatau de quase 800 páginas. O autor recebeu uma autorização para escrever o livro num acordo de 1991 e cumpriu o combinado. Young é tão maluco e imprevisível que proibiu a publicação de sua própria biografia repudiando o acordo com o autor e a editora, mas sem se declarar contra o conteúdo do livro.
Leia um artigo do Guardian sobre o livro.
Teria Young falado ou se exposto mais do que deveria? Ficou com medo do julgamento das pessoas? Ou medo de reações ainda desconhecidas dos fãs, fora de seu controle?
Um de seus solos mais poderosos está na música “Like a Hurricane”.
E essa performance solo de “Old Man” gravada em Londres na BBC em 1971 é visceral. Young tinha apenas 26 anos. Sempre me lembro do meu pai quando escuto.
O Iluminado / The Shining
Rumo ao terror do isolamento
Demorei anos pra assistir esse filme. Ficava só imaginando como seria, quanto de medo sentiria e como reagiria a tudo. Medo clássico do desconhecido.
Uma das obras primas de Stanley Kubrick, The Shining supera qualquer expectativa criada. Suspense e terror na medida certa, crescendo junto com a trama. O roteiro é baseado num romance homônimo de quem mesmo? Stephen King, quem mais?
A sinopse oficial é essa: “Durante o inverno, um homem chamado Jack Torrance (Jack Nicholson) é contratado para ficar como vigia no isolado Overlook Hotel nas Montanhas Rochosas do Colorado e vai para lá com a mulher, Wendy Torrance (Shelley Duvall) e seu filho, Danny Torrance (Danny Lloyd). Porém, o contínuo isolamento começa a lhe causar problemas mentais sérios e ele vai se tornado cada vez mais agressivo e perigoso, ao mesmo tempo em que seu filho passa a ter visões de acontecimentos ocorridos no passado, que também foram causados pelo isolamento excessivo.”
Esqueceram de dizer que Jack é um aspirante a escritor e alcoólatra em recuperação e seu filho possui habilidades psíquicas que lhe permitem enxergar o terrível passado do hotel. O cozinheiro do hotel, Dick Hallorann (Crothers), também possui essa capacidade e se comunica com Danny telepaticamente.
Como esquecer aquela cena das meninas no corredor do hotel? Toda vez que entro num hotel com esses corredores intermináveis fico esperando as meninas surgirem.
Coração das Trevas / Heart of Darkness
A clássica aventura nas selvas
Leia esse livro o quanto antes. É curto, profundo e poderoso. A resenha abaixo foi publicada no meu Instagram @pedro_livros. Medo do desconhecido é mato!
Se você é fã do clássico filme “Apocalypse Now” de Coppola saiba que ele foi baseado na história do Joseph Conrad chamada Heart of Darkness, no original. Até o nome do personagem do Marlon Brando é o mesmo, um certo Kurtz. Troquem o Congo Belga no final do século 19 pelo Vietnã dos anos 1960 e 70 e temos um blockbuster.
O próprio Conrad (1857-1924) foi oficial da Marinha Mercante e se embrenhou pelo Congo Belga em 1899, ano de nascimento do meu avô Pedro. O colonialismo belga foi brutal mesmo quando comparado com outras civilizações na África. Muitos protestaram, mas Conrad resolveu contar uma história sem focar nas atrocidades dos europeus.
O capitão Maslow penetra no interior da África navegando rios tortuosos, desviando de tocos flutuantes traiçoeiros a bordo de um decrépito vapor e gerenciando uma tripulação heterogênea, com a presença até de alguns canibais a bordo, em busca de um certo Kurtz. Um sujeito notável e brilhante, elogiado por todos, carismático e bom de discursos públicos, Kurtz era encarregado da exploração de marfim nos confins da Mãe Terra, mas, de repente, parou de dar notícias.
Cultos satânicos, tribos bárbaras, os dilemas morais e mentais de Maslow durante a viagem, a luta pela sobrevivência e o compromisso pessoal de cumprir a missão de resgatar Kurtz fazem desse livro um clássico que sempre quis ler.
Existe um documentário também chamado Heart of Darkness mostrando o making off de “Apocalypse Now” e todas as agruras vividas por Coppola, que literalmente quase se suicidou durante as filmagens, e sua equipe. Orçamento estourado, onze meses de gravação, chuvas tropicais nas Filipinas onde foi filmado, um calor e umidade dos diabos, pressão do estúdio entre tantas outras dificuldades pra filmar essa obra prima.
Edvard Munch
“O Grito” de medo, desespero ou angústia?
Já tive o privilégio de visitar o Munch Museum em Oslo, Noruega. Aberto em maio de 1963 e localizado na Tøyengata 53, em Oslo, o museu abriga entre várias outras obras do pintor sua obra prima “O Grito”, ou Skrik em norueguês.
Acabo de descobrir que este museu ficará aberto somente até o fim deste mês. A partir de 22 de outubro o novo Munch-Museum abrirá as portas ao público num prédio modernoso na orla de Oslo.
“O Grito” é uma série de quatro pinturas feitas por Munch em 1893 representando uma figura andrógina em aparente angústia e desespero. Com as mãos levadas ao rosto e a boca aberta, como se estivesse gritando, o quadro expressa um sentimento que talvez o pintor vivenciava.
A maioria das obras de Munch revela tragédia, doença e morte. Foram assuntos recorrentes na infância do artista que perdeu a mãe e as irmãs na juventude. Por isso, solidão, melancolia, angústia, desespero e depressão aparecem com frequência nas obras do artista.
Leia essa breve biografia do pintor.
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Alea Jacta Est #10 – Medo do Desconhecido
Adorei, Pedrin. Me identifiquei bastante com as mudanças e coragem para enfrentá-las. Saímos mais fortes sempre. Parabéns!
Dimas: "To atrasado… li a da maldade só hoje! Excelente!!!!"