Alea Jacta Est #11 – Liberdade, Liberdade!!!
Igualdade, Velvet Revolver, Into the Wild, Scorpions, Capa & Taro
Salve, salve!!! Salve-se quem puder…
Foto de Junior Moran no Unsplash
Liberdade!!! Uma palavra, vários significados. Onde termina a minha, começa a sua. O que é realmente a Liberdade. O que significa ser totalmente livre?
É fazer o que der na telha sem se preocupar com as consequências, a sociedade, família, amigos, colegas de trabalho e, principalmente, com você mesmo?
Vale a pena sair pelo mundo querendo conhecer o máximo de lugares possíveis e após 15 dias ligar pro papai pedindo dinheiro por que o “jenio” aventureiro não planejou nada e a grana acabou?
Ou seria melhor se embrenhar no meio do mato ou da floresta feito Thoreau vivendo de forma auto suficiente, isolado de tudo e todos, em busca de si mesmo, mergulhando profundamente em sua própria alma?
É um assunto extenso, filosófico, emocional e intenso. E polêmico.
Para uma melhor imersão nessa newsletter, aperte o play no “Libertad”, o segundo álbum da finada banda Velvet Revolver, mistura de Guns n’ Roses com Stone Temple Pilots, mas com identidade própria.
Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós!!!
Somos responsáveis pelos nossos atos
Como não se lembrar do samba enredo da Imperatriz Leopoldinense de 1989?
Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós (bis)
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz
“Que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz!”
A igualdade no respeito a si mesmo e ao próximo. A igualdade de estarmos todos juntos no mesmo planeta onde tudo e todos estão interligados. A igualdade em aceitar que cada um vive a Vida à sua maneira, pensa como pode e, em teoria, deveria assumir as consequências pelo que faz e deixa de fazer.
Ter consciência disso já seria meio caminho andado para uma existência mais tranquila e menos odiosa de todos nós.
Ultimamente, a Liberdade de uns só pode existir em detrimento da Liberdade dos outros. Outros estes que se opõem a forma de pensar e agir daqueles que clamam por... Liberdade. Seria esta a palavra correta mesmo?
Melhor dizer claramente e informar a todos que Liberdade agora significa o “direito” de intimidação, de ameaça, de impor sua maneira de pensar, o seu modus operandi. E foda-se o resto.
Dizem que andar de moto é o mais próximo que chegamos de nos sentir realmente livres. Infelizmente não podemos voar. Na verdade podemos sim, mas com um paraglider, asa delta, ultra leve, etc. A sensação de estar livre deve ser melhor do que andar de moto, mas os perigos são muito maiores.
Podemos então pegar qualquer estrada, pilotar na velocidade desejada, pelo tempo que quisermos, sem destino ou data pra voltar?
Nem toda estrada vai te levar pra direção certa. A velocidade também vai depender da superfície e do estado da motoca. O Tempo é quem manda. Uma hora você terá que voltar pra sua família, cidade, origem, mesmo que viva ou tente viver sozinho. São poucos os malucos que saíram por aí e nunca mais voltaram.
O ser humano é um animal social. Juntos somos mais fortes e conseguimos mais do que sozinhos.
Liberdade então é sinônimo de respeito. Respeito ao próximo, ao Tempo, ao seu próprio ritmo, limitações, corpo e mente, desejos e objetivos de Vida.
Respeito é bom e mantém os dentes no lugar. Liberdade também.
Leia a história da letra desse samba enredo inesquecível, até hoje cantado em estádios de futebol.
Velvet Revolver
STP + Guns = rock raiz
Foram apenas dois álbuns: Contraband (2004) e Libertad (2007), mas o suficiente pra banda escrever seu nome na história da música.
Slash (guitarra), Duff McKagan (baixo) e Matt Sorum (bateria) vieram do Guns N’ Roses. Dave Kushner (guitarra base) era da banda punk Wasted Youth, muito prazer. E no vocal o explosivo, enigmático e auto destrutivo Scott Weiland do Stone Temple Pilot.
Tinha tudo pra dar errado, mas deu muito certo. Tive a sorte de vê-los ao vivo duas vezes. A primeira em 2005 na turnê do primeiro disco abrindo para o Black Sabbath com o Ozzy em Viena.
A segunda foi em 2007 numa pequena casa de shows em Colônia no tour do segundo álbum, justo o Libertad. Juliette e meu cunhado Leozinho, que é guitarrista profissional, estavam juntos. Após o show a Ju teve a sorte de achar uma palheta do Slash no chão e deu de presente pro Leo que foi ao delírio. Deve ter guardada até hoje.
A capa do disco Libertad mostra uma moeda estilizada de 10 pesos chilenos produzida de 1973 a 1990 e é uma alusão ao Golpe Militar no Chile em 1973 contra o socialista Salvador Allende. Durante a ditadura de Pinochet, a moeda trazia a imagem da figura feminina alada. Em pequenos algarismos romanos está a data do golpe de Estado (11 de setembro de 1973), e logo abaixo a palavra Libertad (Liberdade) em maiúsculas.
Todos sabemos que a “Libertad” existiu somente na moeda de 10 pesos durante este triste capítulo da história chilena e de tantos outros países latinos.
Por incrível que pareça, estamos em 2021 ainda há quem defenda a ditadura, .
“Libertad” é um dos três únicos álbuns que o vocalista Scott Weiland escreveu enquanto estava sóbrio. O polêmico vocalista foi encontrado morto no dia 3 de dezembro de 2015 vítima de uma overdose acidental de cocaína, álcool e MDA.
Liberdade e respeito aos seus próprios limites, lembram?
Into the Wild e tantos outros
Ser radicalmente livre tem seu preço
Into the Wild (Imagem: Paramount/Shutterstock)
Viver a Liberdade ao extremo tem suas consequências. Um ser humano verdadeiramente livre segue seus instintos, gostos e vontades, mas não deixa de respeitar a si mesmo, sua família, amigos e círculo de convivência. Faz o que quer, mas sem prejudicar ninguém, sem abusar da boa vontade alheia e não destrói a Natureza.
Liberdade financeira tem um preço. Liberdade espiritual também, já que ambas são uma troca entre o tempo disponível e o investimento desse mesmo tempo focados numa atividade específica.
No filme “Into the Wild”, com belíssima trilha sonora do Eddie Vedder, Christopher McCandless levou isso ao extremo e deu no que deu. Admiro sua coragem e a beleza de seus instintos vontades e experiências vividas, mas reprovo sua inconsequência.
Pesquei esta lista da The Spectator com sete filmes cult sobre Liberdade e seus respectivos trailers. Vale a pena rever cada um.
“Spartacus” é um clássico imperdível. “Os Intocáveis / Les Untouchables” é uma aula de amor e doação ao próximo. "Caçadores de Emoção / Point Break” assisti faz tempo e confesso não me lembrar da história, além das cenas de surf e roubos.
“Curtindo a Vida Adoidado / Ferris Bueller’s Day Off” marcou nossas gerações. Um clássico da Sessão da Tarde. “O Dia da Marmota / Groundhog Day” com o antipático Bill Murray é divertido e nos mostra como seria viver a vida se pudéssemos viver cada dia como se fosse o último. E por fim, “Thelma & Louise” vale cada segundo.
Wind of Change
Música a serviço da teoria da conspiração
Esse podcast mostra a teoria conspiratória sobre a música “Wind of Change” da banda alemã Scorpions e sua possível influência na queda da União Soviética e abertura política dos países comunistas.
Segundo o jornalista Patrick Radden Keefe da New Yorker, a poderosa balada foi encomendada pela CIA no final dos anos 80 para servir de hino à abertura política e econômica do bloco sob a Cortina de Ferro. Os Scorpions eram muito populares na Rússia e demais países onde suas fitas K7 valiam muito dinheiro sendo contrabandeadas até chegar aos ouvidos dos ávidos fãs de Omsk a Vladivostok passando pela Dudinka.
A caçada em busca da suposta verdade chega até mesmo no vocalista da banda, Klaus Meine, além de várias outras figuras relevantes da época. É o tipo de história que você torce desde o início para que seja mesmo verdade. A letra só alimenta a teoria. Moskva é o rio que corta Moscou e o Gorky Park também fica na cidade:
Wind of Change - Scorpions
Follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change
An August summer night
Soldiers passing by
Listening to the wind of change
The world is closing in
Did you ever think
That we could be so close, like brothers
The future's in the air
Can feel it everywhere
Blowing with the wind of change
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change
Walking down the street
Distant memories
Are buried in the past, forever
I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow share their dreams
With you and me
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change
The wind of change
Blows straight into the face of time
Like a storm wind that will ring the freedom bell
For peace of mind
Let your balalaika sing
What my guitar wants to say
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow share their dreams
With you and me
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change
Leia esta reportagem sobre a teoria toda.
Robert Capa & Gerda Taro
Fotógrafos lutando pela Liberdade
Gerda Taro & Robert Capa Foto: © Fred Stein Archives /Getty Images
O que acontece quando uma aspirante a fotógrafa judia e alemã cruza o olhar com um quase consagrado fotógrafo de guerras húngaro, cigano e teimoso? Faíscas, amor, provocação, cliques e a busca pela melhor foto possível.
O pano de fundo é a terrível guerra civil espanhola que arrasou o país pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Fascistas apoiadores do ditador Franco contra os Republicanos tentando salvar o país das garras do obscurantismo. Cidades arrasadas, o bombardeio covarde de Guernica, velhos, mulheres e crianças dizimados como insetos. O dia a dia nas frentes de combate, a vida por um fio em busca do melhor ângulo, da melhor imagem.
Nos cafés de Paris antes da guerra e nas calles de Madrid durante a carnificina Gerta Pohorylle se transforma em Gerda Taro. André Friedmann se torna Robert Capa, o famoso fotógrafo de guerras presente no desembarque na Normandia durante o dia D e autor da icônica foto "Morte de um miliciano" que rende controvérsias até hoje.
Juntos ou separados, eles convivem com artistas, escritores, intelectuais, dissidentes, voluntários e exilados que faziam e escreviam a História. Até Ernest Hemingway aparece enquanto escrevia "Por quem os sinos dobram".
Seguindo os ensinamentos de sua mãe que dizia "a elegância pode lhe salvar a vida" e "a aparência de sucesso chama o sucesso", Gerda ajudou a transformar André em Capa fazendo-o crescer e aparecer na imprensa mundial com suas fotos de guerras. A parceria dos dois deu muito certo enquanto durou.
Robert Capa é um dos fundadores da prestigiada agência fotográfica Magnum, junto com Henri Cartier Bresson e David Seymour, o Chim.
A escritora espanhola Susana Fortes escreveu o livro misturando ficção com fatos reais como uma homenagem aos dois que arriscaram suas vidas para mostrar ao mundo os horrores da guerra civil na Espanha.
Resenha publicada originalmente no meu Instagram @pedro_livros
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Alea Jacta Est #11 – Liberdade, Liberdade!!!
Fantastica essa historia da musica do Scorpions...nao fazia nem ideia, alias nunca tinha nem parado para realmente entender a letra. Ler essa news e viajar nas musicas foi bacana demais!
Cada vez que leio fico mais entusiasmando pra ler a próxima! Excelentes, meu caro, continue assim!