Salve, salve!!! Salve-se quem puder…
Anastasios TsoukalasGetty Images
A Vida sobre duas rodas. Liberdade, sofrimento, escolha, esporte, lazer, tiração de onda?
O tema de hoje surgiu por causa da bike de corrida que comprei essa semana pra fazer os 5 km no trajeto casa-trabalho. Isso dá 10km por dia e 50 por semana. Isso em condições normais se o clima e o frio do inverno deixarem. E tem também a logística de levar e buscar os filhos na escola, passar no supermercado, atender os desejos da amada esposa, etc..
Resumindo: se não sair cedo antes do trampo pra dar um pedal, esquece!
Mergulhe de cabeça nessa newsletter ouvindo uma das maiores bandas de todos os tempos, Kraftwerk e seu icônico álbum “Tour de France” de 2003 remasterizado em 2009. Aperte o play!
AUTO Performance x ALTA Performance
Bike elétrica é apenas uma mobilete piorada
Minha última bike é de 2006 comprada em Düsseldorf paga em seis suaves parcelas, pois a grana da bolsa de doutorado era curta. Está comigo até hoje ainda com a cadeirinha que levou os meninos pra cima e pra baixo.
Hoje carrega nas manhãs de sábado e/ou domingo apenas uma sacolinha cheia de Semmel, pão francês austríaco, croissants, pães com semente de girassol, nozes e otras cositas mas.
Resolvi me dar um presente e comprar uma bike de corrida. Passei por acaso na frente da Trek, entrei e gostei de todas. Comecei a olhar o papelzinho pendurado no guidão de cada uma e os olhos arregalaram com os valores. Chegavam a € 5.000. A mais barata custava € 900. Gzuis!!!
Após rápida pesquisa no Google fui cair onde mesmo? Na Amazon, é claro. Achei uma Da Vinci italiana com excelente custo benefício e entrega pra dali 15 a 21 dias. Apertei o play, ops... o Kaufen, comprar em alemão, e mandei bala.
No dia seguinte o suporte da empresa me ligou explicando que precisava ter uma chave 15 pra montar os pedais que viriam desmontados. Me mandou um email com um link (da Amazon) com o modelo recomendado. Mais um clique e parti pro abraço.
A danada chegou dali uma semana superando minhas expectativas mais otimistas. A montagem foi moleza e nem precisei da tal chave. Usei uma inglesa mesmo apesar da lenhada de leve nos pedais. Uma chave allen fez o resto dos ajustes.
Só de raiva fui na Trek calibrar os pneus. Tem uma mangueira com bomba ali, pra quem passa na rua e quer encher as borrachas. Todos usam, ninguém rouba. O rapaz da loja me atendeu prontamente e encheu os pneus me indicando a pressão correta.
Fiz os primeiros quilômetros feliz e contente, mas ainda me acostumando com a posição, os pedais, freios e principalmente guidão.
Um amigo meu, anônimo que insistiu pra não ter o nome revelado, curte mountain bike. Desabafou comigo sobre a palhaçada que virou fazer uma trilha atualmente.
Aparecem bikes de 150 mil reais nas mãos de pseudo ciclistas milionários que caem na modinha de achar que comprar a melhor bike da galáxia farão deles o ciclista mais foda do Universo.
Acontece uma banalização do esporte onde o imbecil acha que comprar uma bike caríssima o fará andar mais. Apenas componentes nobres não substituem seu suor nem sua força de vontade.
Concordo com ele quando diz que bike elétrica não é bicicleta e sim uma mobilete piorada. Já tive uma mobilete amarela e fazia miséria com ela, mas tinha minha bike de cross descendo o bambu pelas trilhas e estradas de terra que ficavam alagadas nas chuvas e nosso desafio era atravessar aquela imensa poça sem cair.
O senhor Anônimo me contou sobre o ciclista de 100 kg focado em comer churrasco e beber cerveja após a trilha, mas que toma o cuidado de tirar a tampinha da câmara do pneu para deixar a bike 2g mais leve.
Hoje em dia esse meu distinto amigo tem ódio das trilhas, lugar onde o cara que nunca andou come o gel de 30 pilas e joga o saquinho no mato.
Os milionários e pseudo ciclistas acabaram popularizando um esporte que não precisava ser popularizado criando um consumismo insano e irracional.
Sapatilha de 3.000 reais quando uma que vale 10% do preço resolve é um exemplo.
Este folclórico sem nome me conta que pedalou de Esmeraldas a Biquinhas durante 4 dias. Sem GPS, sem mimimi, sem porra nenhuma, bebendo igual um porco, comendo só torresmo e carne de lata. A bike quebrou uma coroa e ele seguiu só com o coroão a saga inteira. Chuva, lama, a porra toda.
Prometeu ano que vem ir de Moeda a Tiradentes, se o joelho deixar.
Hoje em dia o ciclista nutella só entra na trilha se tiver tomada. Fim de linha.
Comprei essa bike barata por causa do custo benefício. Vou usar, usar e usar cada vez mais até esgotar o equipamento. Quando tiver pedalado muito, vou pensar e repensar. Se realmente precisar e fizer sentido, farei um upgrade.
Meu amigo anônimo do joelho de cetim me pediu encarecidamente pra mandar todos os ciclistas da era moderna pra puta que pariu. Como nossa amizade é sólida com um pudim, sou obrigado a atender seu desejo pois concordo com ele. Conheço alguns...
Na maioria das vezes, a modernidade acaba estragando um lazer simples.
Atualmente, meu amigo sem nome pretende alugar bikes e equipamentos apenas para tirar fotos e postagens no Instagram. Já que é pra tirar onda ele vai fazer direito.
O que isso tem para custar o mesmo que uma moto BMW? Tecnologia caríssima essa viu. Ou os trouxas que pagam acham que terão um rendimento igual a de um campeão?
Todo dia o trouxa e o esperto saem de casa. Quando se encontram, vira negócio.
Kraftwerk
A banda mais influente que os Beatles
Morei quase nove anos em Düsseldorf, a cidade natal da banda revolucionária que fez a música eletrônica virar o que é e influenciou todo mundo. Eles são o tronco principal, a raiz de tudo. A fonte.
Os shows eram raríssimos e quando aconteciam os ingressos se esgotavam em minutos. Nunca consegui ver ao vivo. Uma pena. E nunca passei na porta do Kling Klang Studio. Uma vergonha..., mas acabo de passar na porta virtualmente graças ao Google Street View. O Studio fica pertinho da Hbf, a estação central. Prometo ir lá no próximo pulo que der na cidade.
Neste artigo, o bom e velho Barcinski comenta o ensaio do crítico musical Tim Sommer, do jornal norte-americano LA Weekly, que vaticina: o Kraftwerk hoje é muito mais influente do que os Beatles na música pop atual.
O jornalista inglês Paul Morley faz coro e diz o mesmo no documentário musical “Kraftwerk: Pop Art" da BBC4.
E quem sou eu pra discordar.
Por coincidência, hoje ouvi de cabo a rabo o “All Things Must Pass” do George Harrison. Ele é com certeza o melhor dos Beatles.
Longe de mim querer criar qualquer tipo de cizânia, intriga e/ou discórdia. Não sou disso!
Icarus
Me engana que eu gosto
Esse documentário no Netflix mostra o nível de insanidade e irresponsabilidade de ciclistas, treinadores e equipes envolvidas na busca pelo melhor desempenho e pelas vitórias no ciclismo de alta performance. Lance Armstrong deixou discípulos, aquele crápula.
A ideia inicial do jornalista Bryan Fogel, também ciclista amador com participações no Tour de France, era fazer um documentário mostrando passo a passo, como é o processo de burlar o sistema de doping no ciclismo. Após Lance Armstrong fazer mais de 500 exames e todos deram negativo, o esquema deveria ser muito bom.
O documentário seria uma espécie de reconstituição do crime de Armstrong e outros ciclistas.
O jornalista procurou muita gente até chegar no diretor do laboratório antidoping russo Grigory Rodchenkov. O médico criou um esquema especial para Bryan Fogel se dopar para aumentar o desempenho durante os treinos e corridas burlando o sistema.
Num dado momento, o próprio Rodchenkov, que estava sendo investigado pelo COI, é denunciado por um esquema de doping de proporções gigantescas e inimagináveis. O documentário “Ícarus” muda radicalmente de rumo, deixando embasbacado o espectador.
Elementos como Máfia Russa, KGB e até mesmo o Presidente Vladimir Putin entram como participantes de todo o esquema de doping numa conspiração existente desde a década de 1980.
Marco Pantani, o Pirata
Triste fim de um monstro sobre rodas
"Pantani: The Accidental Death of a Cyclist" de 2014 também no Netflix mostra a ascensão e queda de Marco Pantani, o Pirata, um astro italiano do ciclismo nos anos 90.
A história de um homem enfrentando as montanhas, a batalha de um atleta contra o vício, passada no cenário idílico dos Alpes durante o Tour de France. A trágica história de Marco Pantani contra ele mesmo.
Um documentário extremamente humano. Marco foi vilão ou vítima do sistema? Assista.
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Pedrão, me identifiquei demais com essa newsletter, mais uma vez! Pedalo desde os 15 anos. Minha primeira bike de trilha era uma Monark Amarela e Rosa de 18 marchas, quadro de aço e freio alicate. Pedalava o dia inteiro e nao via ninguem na trilha. Hoje tem até engarrafamento, a maioria deles estao ali pra postar no insta ou coisa e tal...foda.
Muito bom, Pedrim! Abs