Salve, salve!!! Salve-se quem puder…
Hoje o tema é Gratidão. Melhor dizendo, a banalização do uso indiscriminado e sem sentido da palavra quando um obrigado resolveria 95% dos casos.
Nessa toada e antes de começar a leitura, aperte o play pra curtir primeiro essa obra prima do Led Zeppelin “Thank You”.
Na sequência temos “The Very Best of Grateful Dead”, banda que nunca fui muito fã, mas tem seu valor e lugar na história da música e cujo nome numa tradução literal seria “Grato (mas) Morto”. Saiu de uma frase que o vocalista Jerry Garcia achou por acaso num dicionário de simbologia. Reza a lenda que “grateful dead” fazia parte de uma oração egípcia.
Gratidão não é Obrigado
Somos obrigados a agradecer pela Vida
Gratidão, segundo o pai dos burros, é um substantivo feminino significando:
1. qualidade de quem é grato.
2. reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor etc.; agradecimento.
Já o nosso (muito) obrigado, quer dizer:
Forma que expressa agradecimento quando alguém nos faz um favor, ganhamos algo ou por estarmos gratos.
O sujeito entra na Galeria do Ouvidor e pede dois pastéis de queijo e uma garapa. É muito bem atendido e ao receber seu pedido diz em alto e bom som: GRATIDÃO!!! Só falta juntar as palmas das mãos na frente do rosto, curvar o corpo pra frente e gritar: NAMASTÊ!!!
Bastava um obrigado ou um muito obrigado se o atendimento fosse realmente excepcional. A gratidão foi gourmetizada, virou o obrigado nutella. Marca registrada dos tempos atuais.
Hoje em dia as pessoas confundem gratidão com obrigado. Banalizaram a pobre coitada num nível inimaginável.
É tudo muito forçado e artificial na maioria das vezes. A abominável hashtag #gratidao está por todos os lados como uma praga, uma epidemia de gripe espanhola.
A ironia da situação é que a língua portuguesa, de uma certa forma, nos obriga a usar a palavra “obrigado” quando vamos agradecer alguma coisa ou alguém. Parece até que a pessoa ficará realmente agradecida por que é forçada.
Já no juridiquês, obrigado é um substantivo significando “sujeito passivo de uma obrigação”, ou seja, de uma dívida ou outro compromisso contratual.
Indo além, achei esse artigo da Noemi Jaffe da Folha que diz:
"Obrigado" é o agradecimento básico da língua portuguesa e do povo brasileiro. Etimologicamente, entretanto, "obrigado" é o antiagradecimento. A palavra "agradecer" contém a raiz "gratus", do latim, que significa ser acolhido ou acolher com favor, de forma agradável –termo que, aliás, tem a mesma origem de agradecer.
A evolução dessa raiz gerou significados aparentemente diferentes, mas, se pensarmos bem, muito assemelhados entre si: graça é bênção (recebi uma graça); agradecimento (graças aos céus); delicadeza (uma pessoa é graciosa); humor (alguém é engraçado) e franqueamento (algo é de graça, gratuito).”
E qual é o conceito de gratidão? O que é Gratidão:
Gratidão é um sentimento de reconhecimento, uma emoção por saber que uma pessoa fez uma boa ação, um auxílio, em favor de outra. Gratidão é uma espécie de dívida, é querer agradecer a outra pessoa por ter feito algo muito benéfico para ela.
É nitidamente um sentimento maior, mais nobre e profundo.
Nada contra soltar um gratidao na fila do supermercado ou na padaria após pegar aquele pãozinho quentinho, mas me parece um exagero, uma banalização.
Pior do que isso só mesmo não dizer nada, virar as costas pra quem te serviu e seguir sua Vida como se a outra pessoa tivesse a obrigação de te servir bem.
Grateful Dead
Bob Weir é gente finíssima
Nunca gostei de Grateful Dead. Não sei te dizer o nome de uma única música da banda. Sei que surgiram nos anos 60 e após a morte do líder e vocalista Jerry Garcia a banda praticamente acabou. Tiveram várias formações, fizeram mais de 2000 shows, na verdade, mais de 2300, e se você morou nos EUA entre 1965 e 1995 a chance de ter visto um show da banda é enorme.
Faz algum tempo que assisti por acaso no Netflix o documentário “The Other One: The Long Strange Trip of Bob Weir” sobre o guitarrista da banda, Bob Weir. Um cara gente boa até mandar parar, boa pinta, pegava todas as fãs da banda e os outros integrantes que se contentassem com as sobras. Ou ficavam chupando dedo mesmo porque Bob era terrível.
Rodou o mundo várias vezes tocando e fazendo o que gosta, não se envolvia muito nos conflitos da banda, criou uma parceria de sucesso com Jerry Garcia, viu as várias formações irem e virem, influenciou muita gente e viveu tudo isso com seu jeitão nem aí, meio zen que deixava as meninas apaixonadas sem ele fazer muito esforço.
Um sujeito que certamente é muito grato pela Vida que teve, e ainda tem.
ABFP
O melhor podcast sobre música do Brasil
Quatro amigos, quatro jornalistas. Álvaro Pereira Júnior, ele mesmo do Fantástico e Globo. André Barcinski, a enciclopédia musical. André Forastieri, editor da Bizz, renomado crítico musical. Paulão ou Pauleta, um dos fundadores do programa Garagem, chef de cozinha nas horas vagas, é disparado o mais gente boa dos quatro.
Esse é o ABFP criado durante a pandemia em 2020 pra dar um alento em todos nós com um bate papo informal, muita risada e músicas de qualidade.
Cada episódio tem um tema e cada um dos quatro escolhe duas músicas relacionadas ao assunto justificando o motivo. Todo programa são oito músicas na íntegra.
As histórias rolam antes e depois, causos hilários, entrevistas que deram errado, críticas ácidas a artistas consagrados e dicas de livros, filmes, documentários, sites etc. que você não vai achar em lugar nenhum.
Com a saída do Álvaro durante as gravações do documentário “A Corrida das Vacinas” na Globo Play, um convidado sempre o substituiu. Após o anúncio da saída oficial, o A de Álvaro se tornou Amigos. Nós ouvintes ganhamos muito, já que saiu um jornalista rabugento e muito ocupado pouco comprometido com o podcast e entrou o tal amigo muito interessado em mostrar serviço e melhorar ainda mais o conteúdo do programa.
Sou eternamente grato aos quatro, Álvaro (Twitter:@alvaropereirajr) & Amigos, Barcinski (@andre_barcinski), Forasta (@forastieri) e Paulão (@garagem) por expandirem meus conhecimentos musicais ao infinito e além. Todo programa aprendo algo novo, conheço uma banda que nunca ouvi falar, escuto estilos musicais pouco convencionais como Sahara Blues e vou atrás de algumas das preciosas dicas.
Outro dia assisti “Ginger in Africa” sobre a viagem do baterista inglês Ginger Baker que cruza o Saara de carro com um amigo rumo à Lagos na Nigéria onde ele criou um estúdio. E estou lendo “Le Freak”, a festejada biografia de Nile Rodgers, produtor musical consagrado, fundador do Chic e um dos reis da discoteca. Tudo graças ao ABFP!
A vocês, meu muito obrigado e #gratidao eterna, hahaha!!!
Edward Snowden
O mundo deveria ser eternamente grato a ele, um herói
As leis de proteção e uso de dados só surgiram após as denúncias de Edward Snowden sobre a espionagem na internet feita pela NSA (National Security Agency) aos usuários de internet. Sem o consentimento deles.
Li e indico o livro “Permanent Record” onde Snowden relata sua saga. Ele ainda é considerado fugitivo da justiça americana e vive em Moscou escondido de tudo e todos. De vez em quando aparece no Twitter dando pitacos preciosos sobre o assunto.
Terminei de ler, na verdade de ouvir o audiobook, justamente no aeroporto internacional de Moscou, Smederevo. Justo onde Snowden foi preso ao tentar entrar no país quando viajava rumo ao Equador para seu exílio.
A resenha abaixo foi publicada no meu Instagram @pedro_livros:
“Foi uma coincidência muito grande terminar de ouvir esse audiobook no aeroporto internacional de Moscou. Foi justo ali que Edward Snowden ficou "em trânsito" por 40 dias em 2013 até conseguir asilo político definitivo na Rússia.
Ele vinha de Hong Kong, onde havia se encontrado com jornalistas internacionais, entre eles Glenn Greenward, gravado entrevistas em vídeo e vazado todo o esquema de espionagem feito pela NSA, a Agência Nacional de Segurança dos EUA. Edward tentava chegar até o Equador, um dos únicos países dispostos a recebê-lo e protegê-lo de uma possível extradição. Foi pego na Rússia, logo ali, e não pode continuar a viagem pois seu passaporte havia sido cancelado pelo governo americano.
No livro Ed nos conta sua infância nos EUA, a curiosidade nata por qualquer assunto, as várias tentativas de hackear o sistema, seja qual fosse, começando por alterar todos os relógios da casa e enganar os pais indo pra cama mais tarde do que o horário real.
Em 7 anos de carreira, começando aos 22, Edward Snowden foi galgando posições dentro da NSA e outras agências de espionagem americanas de forma meteórica. De um mero controlador de turno noturno com acessos limitados até chegar ao topo do sistema conhecendo por dentro as entranhas do maior programa de espionagem jamais construído.
Muita coisa mudou após o vazamento. Leis foram alteradas, mecanismos de controle criados e a lei sobre GDPR (General Data Protection Regulation) implementada na Europa protegendo a privacidade e os dados pessoais dos usuários da internet. Após essa lei de 2016 agora a propriedade dos dados é de quem gera e não das empresas que os armazenam.
Mr Snowden continua vivendo em Moscou meio escondido de tudo e de todos. Participou recentemente via vídeo de uma conferência sobre tecnologia em Portugal. Chamou a atenção de todos nós lembrando que hoje as empresas mais poderosas do mundo, Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft, são as menos regulamentadas e controladas. E isso é um perigo para o futuro da Humanidade.
Apesar de tudo isso, toda noite Ed pode deitar a cabeça no travesseiro em paz. Ele fez a coisa certa a ser feita. Tudo isso do alto de seus 30 anos de Vida.”
Obrigado Edward Snowden.
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Esta saiu no sábado porque viajei.
Edward Snowden é o cara!