Alea Jacta Est #7 - Hoje é dia de Maldade
Assassinos, o Sarrià, Jerry Lee Lewis, Mindhunter, Ângela Diniz e a Menina Má
Salve, salve!!! Salve-se quem puder…
Hoje é dia de Maldade.
Hoje é dia de assinar a newsletter e jogar na caixa de Spam.
Dia de se inscrever no canal e desativar o sininho.
Hoje é dia de ver dois cegos brigando e gritar “faca não!"
Sexta-feira é dia de tirar o guru da yoga do sério.
É dia de assinar o Prime só pra assistir “Um Príncipe em NY” e depois cancelar.
Dia de ficar escrevendo e apagando, escrevendo e apagando...
Se você está internado, hoje é dia de trocar o soro fisiológico por Stolichnaya.
Hoje você vai ouvir aqueles áudios compridos no grupo da família, aqueles que você ignorou a semana toda por que falavam de política. Vai ouvir sabendo que passará raiva, mas ouvirá assim mesmo por que hoje é sexta-feira. Dia de coisa errada!
Dia de se prejudicar sem motivos.
Dia de alugar fita VHS pro seu sobrinho que tem um videocassete Betamax.
Dia de roubar paçoca do baleiro na hora do recreio.
Tempo médio de leitura: 12 minutos.
Hoje é dia de Maldade
Vagabundo é mau
Tenho um amigo que viveu de novo. Está aqui ainda meio sem saber o motivo. Era pra ter ido sem se despedir. Mesmo assim, ele insiste nessa aventura perigosa chamada Vida. Insiste em viver e principalmente em sobreviver.
Gosta de ironias, faz piada consigo mesmo e com sua situação nada confortável. Já foi pior, é verdade. Poderia ser melhor? Sim, também é um fato. Mas é o que temos para hoje. O presente, do jeito que é, sem passado ou futuro.
Ele caiu do alto do Empire State e quebrou apenas três costelas. Vai cortar um dobrado a Vida toda pra retribuir aos anjos da guarda pelo excesso de bondade.
A maioria das frases na introdução são desse meu amigo, ironia e sarcasmo em pessoa.
Essa maldade do destino ocorrida com meu grande amigo me fez lembrar de tantas outras maldades muito mais cruéis e inexplicáveis perpetradas pelo ser humano. Os animais ficariam indignados ao verem essas cenas.
Segue uma pequena lista de maldades que me vieram à mente, sem considerar guerras, genocídios, massacres, chacinas e o dia a dia numa favela do terceiro mundo. Apenas fatos isolados, geralmente executados por apenas um indivíduo e com poucas vítimas, mas que tiveram um impacto devastador.
1) O assassino da Noruega, Anders Behring Breivik
Autor confesso dos atentados na Noruega que mataram 77 e feriram outras 51 pessoas, no dia 22 de julho de 2011 em Oslo e na ilha de Utoya. O sujeito é um terrorista cristão e ativista da extrema direita norueguesa que disparou contra um acampamento de jovens trabalhistas depois de detonar uma bomba perto da sede do governo norueguês. Foi condenado em 2012 a 21 anos de cadeia e cumpre pena.
Em 2018 saiu o filme “U-July 22”recontando o massacre.
2) O “monstro de Amstetten”, Josef Fritzl
Josef Fritzl, pai de Elizabeth, com quem teve sete filhos (Foto de Negativxcrexp/Twitter)
O pai que violou a própria filha durante 24 anos, teve 7 filhos com ela e matou um deles. O mais inacreditável nessa história é como ele conseguiu manter a filha e seus filhos/netos por tanto tempo presos no cativeiro. É tanta maldade que nem sei mais o que escrever.
3) Charles Manson, a encarnação do Mal
Como mostra o filme "Era uma Vez em Hollywood", do Tarantino, no Rancho Spahn, arredores de Los Angeles (LA), a “Família Manson” vivia uma vida pacata e feliz entre roubos e assassinatos cruéis liderados pelo suposto “messias” Charles Manson.
Na infância o pequeno Charles quase foi trocado por uma caneca de cerveja. Teria sido um ótimo negócio para sua mãe.
Delinquente profissional, foi preso várias vezes e em 1967 havia passado mais da metade de seus 32 anos em prisões, reformatórios e centros de detenção. Saiu recrutando mulheres jovens em maioria para sua seita que só foi crescendo.
Músico frustrado, chegou a ter uma música gravada pelo Beach Boy Dennis Wilson, cismou que na música “Helter Skelter” dos Beatles havia uma mensagem escondida. Era uma teoria apocaliptica que segundo Mason os negros iriam dominar os brancos após uma guerra racial que nunca começou.
Até Charles ter a brilhante ideia de convencer a Família Manson a cometer assassinatos de brancos ricos e incriminar os Panteras Negras para iniciar a tal guerra de raças. E foi assim que Sharon Tate, então esposa do cineasta Roman Polanski grávida de 8 meses, foi brutalmente assassinada por seus pupilos.
O maluco foi condenado como sendo o mentor intelectual dos crimes, apesar dele mesmo não ter desferido uma única facada.
Morreu em 2017, mas antes disso deu várias entrevistas onde afirmou ser “uma ilusão”, “uma ideia”, “o criador de Deus” e “um nada”.
Leia mais aqui.
4) Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque
Hoje com 53 anos, está preso desde 4 de agosto de 1998 pela morte de sete mulheres, além do estupro e roubo de outras nove, no Parque do Estado, em São Paulo. Ele confessou algumas das mortes, mas negou ter estuprado as vítimas.
A versão brasileira da mais pura maldade.
5) Itália 3x2 Brasil nas quartas de final da Copa de 1982
Essa maldade esportiva me marcou profundamente. É uma das primeiras lembranças que tenho do futebol.
Paolo Rossi, que desgraçado!!! Nunca fez nada na vida, se envolveu em escândalos com a loteria italiana, teve uma vida bem menor do que a façanha do Sarrià em Barcelona.
Acabou com uma de nossas melhores Seleções, talvez apenas a de 70 fosse mais completa. Encantamos o mundo, futebol arte, golaços, raça, vontade e sem nenhum resultado expressivo.
Me lembro muito mais desse time do que da Seleção vitoriosa de 2002 do retranqueiro Felipão.
Se você ainda não está satisfeito com tanta maldade nesta sexta-feira, segue uma lista dos 5 maiores genocídios seguida dos 5 maiores ataques terroristas da Humanidade com destaque para o Boko Haram da Nigéria. Alguns são bem recentes, para minha surpresa.
Genocidios
5. Massacre em Ruanda (Abril de 1994), g700 mil tútsis mortos e 200 mil refugiados; centenas de hutus mortos, autor do crime: Milícias hutus
4. Genocidio na Armênia (1915-1917), 1,5 milhão de armênios mortos, 500 mil deportados, autor do crime: Turcos otomanos
3. Sangue no Camboja (1975-1979), 1,7 milhão de pessoas, autor do crime: Khmer Vermelho
2. Genocídio ucraniano, Holomodor (1932-1933), 5 milhões de ucranianos, autor do crime: União Soviética
1. Holocausto judeu (1939-1945), entre 6 e 10 milhões de judeus, autor do crime: Alemanha nazistas
Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-os-dez-piores-crimes-contra-a-humanidade/
Ataques terroristas:
5º) Incêndio no Cinema Rex, Abadan, Irã, 19/08/1978 = 477 mortos e 10 feridos
4º) Atentados contra comunidades yazidis, Kahtaniya e Jazeera, Iraque, 14/08/2007 = 520 mortos e mais de 1.500 feridos
3º) Ataques do Boko Haram em Baga e Doro Gowon, Nigéria, 3 a 4 de janeiro de 2015 = Mais de 700 mortos e de 1.000 feridos
2º) Ataques do Boko Haram em Maiduguri, Nigéria, 28 a 30 de julho de 2009 = 780 mortos e um número indefinido de feridos
1º) Atentados de 11 de setembro, Nova York, Arlington e Shanksville, Estados Unidos, 11/09/2001 = 2.993 mortos e mais de 8.900 feridos
Leia mais em: https://forbes.com.br/listas/2016/09/10-maiores-atentados-terroristas-da-historia/#foto10
E por que estou escrevendo sobre tanta coisa ruim? Para que ninguém nunca se esqueça de tanta maldade e que nenhuma delas jamais se repita.
Jerry Lee Lewis
The Killer passava por cima de tudo e todos
O maior bad boy da música se chama Jerry Lee Lewis. A maldade em pessoa a serviço do rock n’ roll. Ainda vivo, Jerry Lee teve uma vida trágica pois enterrou duas esposas e dois filhos, tentou matar algumas pessoas, teve tantos altos e baixos que sua vida foi uma montanha russa. Mas ele sobreviveu.
O escritor nova iorquino Nick Tosches, de quem eu já li “Unsung Heroes of Rock n’ Roll” (minha resenha) e “The Devil and Sonny Liston”, escreveu sobre Mr Lewis no seu livro “Criaturas Flamejantes” (Hellfire no original em inglês) lançado no Brasil pela Conrad:
“Podem falar dos depravados do rock and roll: Jerry Lee faz todos eles parecerem o Wayne Newton. Podem falar dos heróis do honky tonk: perto de Jerry Lee, eles são um bando de vomitadores em festas de repúblicas universitárias. ‘Quando nasci, meus pés saíram na frente e eu chacoalho desde então’, ele lhe dirá se estiver de bom humor. Seus servos e parentes dirão mais: Jerry Lee bebe mais, se droga mais, briga mais, xinga mas, atira mais e fode mais do que qualquer homem vivo. Ele é o último americano selvagem, homo agrestis americanus ultimus.”
Essa tradução é cortesia do finado Confraria de Tolos do André Barcinski que também fez uma resenha sobre o disco ao vivo de 1958 em Hamburg.
Veja Jerry Lee destruindo no piano num show na Inglaterra em 1964:
E depois neste show de 2008. A vitalidade dele é impressionante.
Não é à toa que seu apelido é Killer.
Mindhunter
A origem do termo serial killer
Nessa série passada nos anos 70 com apenas duas temporadas o conceito de serial killer foi desenvolvido e criado por dois investigadores do FBI, Holden Ford (Jonathan Groff) and Bill Tench (Holt McCallany), e depois com a ajuda da soturna psiquiatra Wendy Carr (Anna Torv).
Se você espera cenas de ação, tiros, mortes a rodo e um ritmo frenético vai se decepcionar. A série foca justamente no fator psicológico das mentes criminosas tentando entender o que motivou cada serial killer a cometer seus crimes.
É uma tensão sútil que vai se intensificando ao longo dos capítulos na medida em que o jovem Holden - talvez uma homenagem a Holden Caulfield de “O Apanhador do Campo de Centeio” - e seu veterano parceiro Bill vão desvendando o modus operandi de cada assassino.
A primeira temporada mostra a vida pessoal de Holden com sua namorada, ela também é uma malvada a seu modo. Já na segunda a menina some e a série perde um pouco o fio da meada, mas segue sendo muito interessante.
É maldade para todos os gostos.
Praia dos Ossos
Um crime bárbaro que deveria ter chocado e mudado a sociedade
No dia 30 de dezembro de 1976, Ângela Diniz foi assassinada com quatro tiros numa casa na Praia dos Ossos, em Búzios, por seu então namorado Doca Street, réu confesso. Mas, nos três anos que se passaram entre o crime e o julgamento, algo estranho aconteceu. Doca tornou-se a vítima. Praia dos Ossos é um podcast original da Rádio Novelo, uma minissérie em áudio idealizada e apresentada por Branca Vianna.
Assim é a descrição inicial desse podcast sobre o feminicídio mais famoso do Brasil. Se hoje as mulheres ainda sofrem discriminacao no trabalho, assédio moral e sexual, abusos de todo tipo e agressões dos companheiros, imaginem nos anos 70!
Em ritmo jornalistico com uma pegada policial e muitos audios da época, ouvimos pasmos como o réu confesso de assassinato da Pantera de Minas, como Ângela Diniz era chamada, usa a teoria da legítima defesa da honra pra tentar se safar de uma condenacao dada como certa.
Os episódios nos fazem refletir sobre as transformações, para melhor e pior, da sociedade brasileira nos últimos 40 anos. O roteiro é muito bem costurado e daria um filme ou série facilmente.
São maldades contra uma mulher, contra todas as mulheres. Isso precisa ser varrido da face do planeta o quanto antes.
Segue o link:
Travessuras da Menina Má
Ricardito sofre como um vira latas em dia de chuva
A história de encontros e desencontros entre Ricardo e Lily durante quatro décadas é narrada com a costumeira prosa de Mario Vargas Llosa.
O peruano Ricardito, como é carinhoso e ironicamente chamado por Lily, realiza ainda jovem o sonho de viver em Paris. O reencontro com um amor da adolescência o traz de volta à realidade. Lily é aventureira e pragmática e o arranca de seu mundinho e suas ambições.
Eles acabam se encontrando pelo mundo afora várias vezes ao longo da vida, em épocas e lugares diferentes. Na Paris revolucionária dos anos 60; na Swinging London das drogas, dos hippies e do amor livre dos anos 70; depois na sinistra Tóquio dos grandes mafiosos; e por último na Madri em transição política dos anos 80.
Lily faz gato e sapato de Ricardito, coitado. Vargas Llosa mistura realidade e ficção para contar uma história em que o amor não pode ser definido, tem várias facetas e personalidades, assim como a menina má do título.
É muita maldade pra cima de um pobre e indefeso homem latino apaixonado por toda a vida.
Alfa Romeo 33 Stradale
A maldade sobre rodas
Essa Alfa talvez seja o mais belo carro já feito. Uma obra prima que deveria estar em museus de Arte e Design mundo afora.
Franco Scaglione da Carrozzeria Marazzi em Milão é o criador desse espetáculo sobre rodas.
Apenas 18 chassis foram produzidos entre 1967 e 1969. O sufixo "Stradale" indica que é uma versão legal de rua de um carro de corrida, nesse caso derivado do tipo Tipo 33. O modelo da foto é o primeiro veículo de produção com "portas borboleta".
O 33 Stradale foi construído com uma carroceria de alumínio parafusado a um chassi também de alumínio. Todas as unidades foram feitas à mão fazendo com que cada modelo seja ligeiramente diferente do outro.
Eu seria capaz de uma bela maldade em troca de uma volta ao volante dessa maravilha.