Alea Jacta Est #6 - O importante é competir...
Jogos Olímpicos, Olympia, Murakami, Bourdain e um Celica perdido em Viena
Salve, salve!!! Salve-se quem puder…
Hoje falarei do óbvio, as Olimpíadas em Tóquio 2020, apesar de já estarmos em 2021.
Aliás, você sabe por que mantiveram o Tokyo 2020 pelo mundo afora e não alteraram para Tokyo 2021? A explicação oficial é que os jogos olímpicos são realizados sempre em anos pares e que um ano ímpar traria má sorte.
Mas a grande verdade é o custo da alteração. Imagine trocar todos os 0 por 1 em não sei quantos painéis, outdoors, relatórios, logos de TV, internet, flyers e o escambau. Sairia uma fortuna!
Tempo médio de leitura: 14:45 minutos, sem os videos.
Superando os próprios limites
Quando a técnica e o preparo são substituídos pelo coração
Os momentos mais memoráveis das Olimpíadas, e dos esportes em geral, acontecem quando a superação, a resistência, a resiliência e sobretudo a vontade de cumprir o objetivo superam todo o longo preparo de anos, a estratégia e a técnica.
Em Montreal 76 eu era muito pequeno para me lembrar, mas as imagens de Nadia Comaneci assombrou o mundo aos 14 anos são impressionantes. Foi a primeira vez que uma ginasta recebeu nota 10 de todos os juízes. Será que ninguém é mesmo perfeito?
Como não se emocionar com o ursinho Misha “chorando” na cerimônia de encerramento dos jogos em Moscou 80. O boicote dos EUA em protesto pela invasão soviética do Afeganistão, manchou os jogos, mas não o espírito olímpico.
Em Los Angeles 84 me lembro bem da medalha de prata do Ricardo Prado. Foi muito improvável. Nestes Jogos a União Soviética dava o troco ao boicote anterior seguido por quase todos os países do Pacto de Varsóvia. Somente a Romênia furou.
Era a primeira vez que as mulheres disputaram a maratona, que não era um esporte dos jogos gregos. Foi introduzida nos primeiros Jogos Olímpicos modernos, em 1896. A origem da famosa prova se refere a história do mensageiro grego Filípides, que correu os 42,195 km entre o local da batalha de Maratona e Atenas para avisar aos cidadãos da capital da vitória grega sobre os persas, caindo morto em seguida de exaustão.
A chegada da maratonista suíça Gabriela Andersen-Schiess no Estádio Olímpico para os metros finais viraram o símbolo dos Jogos em 84. Completamente desidratada e beirando o colapso físico, ela seguiu em frente. Um médico chegou perto para ajudá-la, mas foi afastado pela atleta que cruzou a linha de chegada e desmoronou em seguida. O público foi ao delírio. Ninguém se lembra quem ganhou a corrida.
(Eu corri a maratona de 2014 em Düsseldorf com o assombroso tempo de 4h 48min, mas não morri em seguida. Bebi uma Erdinger sem álcool pra recobrar as forças, juntei os cacos e fui pra casa satisfeito com a missão cumprida. Não recomendo aos velhinhos sedentários.)
Voltando para o passado recente, em Barcelona 92 a medalha de ouro do vôlei masculino brasileiro e a conquista do judoca Rogério Sampaio foram marcantes para nós. Mas tinha um certo Dream Team de basquete roubando a cena e toda a atenção dos Jogos. Para muitos, a melhor seleção de jogadores de um esporte coletivo em toda sua história, tinha astros mundialmente famosos como Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird, Charles Barkley e tantos outros.
Em Atlanta 96, Sydney 2000 e Atenas 2004 não me lembro de nada relevante. Apenas do Ian Thorpe, nadador australiano que engolia a piscina com suas braçadas gigantes. E também Yelena Isinbayeva, a atleta russa do salto com vara, que além de conquistar seu primeiro ouro na capital grega, bateu o recorde mundial mesmo com a medalha assegurada. O segundo ouro veio em Pequim. Yelena é talvez a mais bela atleta dos Jogos, pelo menos na humilde opinião deste escriba amador.
Em Pequim 2008 eu gostava de acompanhar o Michael Phelps. Acordava de madrugada pra ver o tubarão ganhar mais uma medalha de ouro. Vimos o início do reinado de um dos maiores atletas olímpicos de toda a história. Em um desempenho fabuloso, Phelps conquistou a medalha de ouro em 100% das provas que disputou, oito vezes em uma mesma edição, batendo o recorde de seu conterrâneo Mark Spitz, que também na natação, conquistou sete ouros em Munique 72. Phelps ainda voltaria às piscinas em Londres 2012 e Rio 2016 e levaria para casa mais 12 medalhas (nove de ouro e três de prata).
Em Londres 2012 as mulheres dominaram já que todos os países enviaram representantes do “sexo frágil” aos jogos. Vimos também Usain Bolt, o show man e homem mais rápido do planeta, defender suas medalhas de Pequim nos 100m, 200m e 4x100m.
No Rio 2016, Bolt deu mais um show de velocidade e carisma. E pensar que os vultosos investimentos nos Jogos foram quase todos desperdiçados com vários equipamentos, estádios, pistas e piscinas abandonados após o término das competições. Neymala garantiu o ouro no futebol, tinha me esquecido.
Mais histórias inesquecíveis das Olimpíadas aqui e a aqui no site da Pirelli.
E o que esperar de Tóquio 2020/2021?!
Já temos o ouro do Ítalo no surfe e a prata da Fadinha no skate. Teve outra prata na ginástica com a Rebeca Andrade. O que mais?
Olympia, Leni Riefenstahl
Imagens assombrosas a serviço do Mal
Os dois filmes estão completos no YouTube. Tanto o “Festival of Nations” (Olympia, Erster Teil: Fest der Völker) quanto o “Festival of Beauty” (Olympia, Zweiter Teil: Fest der Schönheit), ambos de 1936.
Os documentários foram escritos, dirigidos e produzidos pela diretora alemã Leni Riefenstahl registrando os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlin a mando de Hitler e do Nazismo. Apesar disso, muitas técnicas avançadas de cinema inovadoras na época, que mais tarde se tornaram padrões da indústria, foram empregadas. As técnicas usadas são admiradas quase universalmente, mas o filme é polêmico devido ao seu contexto político.
Mesmo assim, o filme aparece em muitas listas dos melhores filmes de todos os tempos.
Correndo com um escritor
Um best seller maratonista e triatleta
Já li dois livros do escritor japonês Haruki Murakami, a saber: “Killing Commendatore'' e “The Wind-Up Bird Chronicle”. Ambos muito bons e recomendados.
Vou indicar aqui um livro dele que ainda não li, mas que tem tudo a ver com o Japão e com as Olimpíadas: “Do que eu falo quando falo de corrida”, sendo o título original “What I Talk About When I Talk About Running”. É um livro pra quem gosta de corrida, mas mesmo se você não corre poderá se interessar.
Em 1982, Haruki Murakami vendeu seu bar de jazz em Tóquio para se dedicar exclusivamente à escrita. Na mesma época, começou a correr para se manter em forma. No ano seguinte ele consegue completar sozinho o trajeto entre Atenas e a cidade de Maratona, na Grécia, tornando-se rapidamente um corredor amador de longas distâncias.
O livro é curto e reflete sobre o impacto da corrida em sua vida e trabalho. Qualquer atleta amador vai se reconhecer nos relatos e provavelmente gostar do livro. Pode comprá-lo aqui. Já aviso que não ganho nada com isso e nem sou amigo do Bezos, pelo contrário.
Suas obras já foram traduzidos em 38 idiomas e ele é um dos autores mais importantes da atualidade, além de um maratonista experimentado e triatleta.
Bourdain em Tóquio
Leia e assista tudo que esse sujeito fez
Li “Cozinha Confidencial” faz alguns anos. O ex-chef e ainda escritor iniciante relata sua batalha pelas cozinhas por onde passou, os aprendizados, as manhas e macetes de sobrevivência e algumas viagens.
Sua primeira visita em Tóquio é uma das melhores partes do livro. Ficou mais de um mês, no início guiado por um amigo que morava lá, mas depois saindo em voo solo explorando cada restaurante, bodega, bar e mesmo mini cozinhas quase exclusivas, sem propaganda ou mesmo placa indicativa na rua. Nesses locais ele conta ter comido iguarias inimagináveis acompanhado sempre do melhor sakê e papos com os donos, comensais locais e mesmo turistas. Imperdível.
Depois do sucesso estrondoso deste livro, Anthony Bourdain virou celebridade mundial. Teve programa de TV, escreveu outros livros, rodou o mundo várias vezes até ter um fim inglório e até hoje inexplicado.
Se você quiser, pode ler o artigo original da New Yorker publicado em Abril de 1999 que originou seu primeiro livro. Ali ele passa sua dica clássica de que o melhor dia para ir a um restaurante é numa terça.
Mustang japonês
Pérolas espalhadas pelas ruas
Foto: Pedro Silva
Parece um Mustang, mas é um Toyota Celica ST 2000 Liftback clicado em Dez 2019 na porta da oficina onde ele aguardava atendimento no 3. Distrito vienense.
Lançado em abril de 1973 no mercado japonês, o Liftback era realmente chamado de Mustang japonês pelas similaridades com o carro astro do filme Bullitt.
Essas preciosidades estão por toda parte aqui. Basta ter a sorte de encontrá-las.
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