Não sei como esses caras ficaram fora do meu radar por tanto tempo. Em 2022 passaram por aqui, pensei em ir mas desisti. Dessa vez fui conferir.
Na última segunda, 10 de junho, a Wiener Stadthalle, de acústica perfeita e ideal pra esse tipo de som, recebeu os maiores expoentes do Prog Metal, os norte-americanos da banda TOOL formada em Los Angeles no início dos anos 1990.
Espécie de culto religioso, fusão de dark underground com art rock, grindcore, death metal e thrash, foram influenciados pelo pós-punk misturando músicas longas com interlúdios instrumentais e discurso lírico.
Como podem quatro mortais fazer uma sonzeira absurda como essa?! Com imagens e efeitos visuais se casando perfeitamente ao som, tudo se amplifica e vira uma hipnose coletiva.
TOOL é ferramenta em inglês e os músicos da banda sabem usar os seus com maestria.
AC/DC, Metallica e afins são musiquinha de telemarketing perto dos californianos do TOOL. Sem exagero algum.
Foto: Luca Folco (2024)
O vocalista Maynard James Keenan faz questão de ficar fora dos holofotes. Em momento algum do show os canhões de luz de qualidade absurda apontam em sua direção. Canta no escuro escondido atrás de uma máscara, na parte de trás do palco numa plataforma atrás da bateria.
Meu amigo italiano Luca Folco, que veio da Eslovênia só pra ver o show, disse que Maynard é um sociopata. Realmente, o show acabou e ele foi embora sem saudar a plateia. Mais soturno, impossível.
A faixa "10,000 Days (Wings Pt 2)" do álbum 10,000 Days de 2006 é uma homenagem a sua mãe. Após ficar 10.000 dias numa cama de hospital ela morreu. No mesmo disco ainda temos "Wings for Marie (Pt 1)", outra homenagem a ela quando partiu definitivamente.
Danny Carey é o baterista/percussionista e líder da banda. Sua parafernália fica no centro de tudo, como num altar. É um monstro das baquetas, discípulo da mesma linhagem de John Bonham, Keith Moon e Ginger Baker. As pancadas ritmadas que saem dali dão um peso absurdo às músicas.
Lá pelas tantas, o painel de LED atrás dele começa a mostrar imagens da bateria através de uma câmera instalada em sua cabeça. A sensação da platéia é de estar tocando o solo junto com ele. Fantástico.
Foto: TOOL
O baixista Justin Chancellor é um ET. Seu som pesadíssimo preenche todos os espaços, visíveis ou não. Desce o braço sem dó ou piedade e sem ele o som da banda seria outro.
Completando a banda, uma das guitarras mais espetaculares que vi ao vivo: Adam Jones. Usa pedais de distorção como ninguém em sincronia perfeita com as imagens dos painéis por todo o palco.
O TOOL entrega um espetáculo audiovisual às vezes superior ao do Pink Floyd!
Painéis por todo lado, iluminação hipnótica, imagens de moléculas, água, cavernas, robôs, corais, fogo, pirâmides, artérias e até uma espécie músculo pulsante feito um coração. A sensação é de ver o palco inteiro se mover. E olha que não bebi uma gota de álcool nessa noite memorável.
A banda pede estritamente para ninguém tirar fotos ou filmar o show. É proibido por uma boa razão: se quer ver a experiência plena, tem que ser ao vivo. Mesmo no YouTube há pouca coisa disponível. Não há DVDs à venda no site oficial.
O TOOL vive cheio de segredos, é soturno e melindroso, e isso faz parte do culto à banda.
Não teve bis, mas permitiram a filmagem da última música.
Desde segunda a noite a música deles não me sai da cabeça, especialmente o riff de "Rosetta Stoned" do já citado e aclamado disco 10,000 Days.
Veja a exibição do Danny Carey tocando “Pneuma” com a câmera atrás dele. O amigo Stotz me mandou assistir antes do show:
Pra fechar, um maluco consegui gravar esse show no Colorado esse ano. Veja antes que tirem do ar:
Se você ainda não viu o TOOL ao vivo, venda tudo que tem e veja.
É uma obra de Arte.
Minhas crônicas são um exercício literário livre, sem temas específicos. Espero que gostem.